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sábado, 26 de maio de 2012

Um Terapeuta Cansado?

Contardo Calligaris - Folha de S. Paulo - 17/05/2012

Na segunda dia 7, a Folha publicou uma entrevista com um jovem psicoterapeuta nova-iorquino, Jonathan Alpert, autor de um artigo polêmico nas páginas de opinião do "New York Times".

O artigo opunha a terapia "de resultados" (e milagrosamente rápida) de Alpert às terapias longas, praticadas por outros terapeutas de várias obediências. Muitos colegas (dele e meus) sentiram-se incomodados.
As respostas de Alpert têm um tom de autopromoção, que inspira uma certa vergonha (não nele, claro, mas em quem lê). No entanto, à primeira vista, elas são mais triviais do que chocantes.

Alpert apresenta a novidade de sua maneira de clinicar, que consiste, por exemplo, em colocar metas, definir o número de sessões para chegar até lá e avaliar o processo regularmente. Ora, qualquer um que clinique nos EUA faz isso com cada paciente -é o que pedem as seguradoras para aprovar um tratamento: diagnóstico, proposta de um número definido de sessões, meta terapêutica, reavaliação periódica.
Enfim, a "novidade" efetiva é que terapeutas e seguradoras sabem que as metas de um tratamento mudam ao longo da terapia, enquanto (descobri depois) os pacientes de Alpert, misteriosamente, parecem ter sempre pedidos iniciais claros e inalteráveis. Nunca vi coisa igual.

Outro tema: Alpert não gostou de "O Segredo", o best-seller de autoajuda de Rhonda Byrne. Ele acha que desejar intensamente não basta: para conseguir o que a gente quer é preciso agir e ter o acompanhamento de um terapeuta como Alpert, que nos diga o que fazer. Em suma, Alpert gostaria que seu livro fosse "O Segredo" que funciona -OK.

No mais, Alpert acha que os praticantes de terapias longas desperdiçam seu próprio tempo e o de seus pacientes, enquanto ele garante mudanças radicais em 28 dias. Eu adoraria poder curar quase tudo em 28 dias e decidi ler o livro de Alpert, "Be Fearless - Change Your Life in 28 Days" (no Brasil, no fim do ano, pela Sextante, como "Seja Destemido - Mude Sua Vida em 28 Dias" ou algo parecido).

Sinto em dizer: o livro é um desastre, inclusive do ponto de vista da terapia cognitivo-comportamental, que Alpert professa em tese, mas da qual ele parece ter esquecido algumas lições essenciais. Em geral, as terapias cognitivo-comportamentais são mesmo mais rápidas do que as terapias dinâmicas (como a psicanálise), pois elas são focadas em identificar e corrigir pensamentos disfuncionais, ou seja, pensamentos negativos, avaliações e crenças erradas, que são fonte de transtornos psicológicos.

Ora, Alpert se esquece de que um tratamento cognitivo-comportamental DEVE continuar por bastante tempo depois de seu eventual sucesso, porque medos e fobias, mesmo "curados", são reativados facilmente por novos gatilhos de estresse; ou seja, qualquer tratamento cognitivo inclui um (longo) treinamento para administrar o estresse futuro.

Além disso (e muito mais grave), na pressa de seduzir seus pacientes, presentes e futuros, com a promessa de um milagre, Alpert lhes retira qualquer complexidade: todas as dificuldades, amorosas, profissionais ou existenciais, são efeito de um medo (medo de mudar, medo de avançar na vida etc.) -ou seja, para Alpert, não há conflitos de desejos opostos, nem desejos nefastos, nem escolhas propositalmente sofridas: os pacientes só querem namorar com alguém legal e subir na vida. Eles apenas têm medo, e disso logo Alpert vai se ocupar.

Na semana depois da publicação da entrevista, quatro pacientes chegaram ao meu consultório angustiados pela ideia de que eu poderia desistir deles, mandá-los embora alegando que eles estão melhor e já passaram dos 28 dias.

A angústia de meus pacientes pode nos indicar qual é o problema de Alpert. Talvez ele não seja nem inexperiente, nem mal treinado, nem inculto; talvez, apesar de sua jovem idade, ele esteja, sobretudo, já cansado.

O exercício da psicoterapia não é gratificante: a persistência do sofrimento psíquico é grande, o próprio desejo de um paciente se curar é incerto, e os caminhos da cura são tortuosos (e misteriosos, mesmo quando a gente consegue se engajar neles). Não estranha que um terapeuta, no meio disso, prefira simplificar ao máximo o pedido de seus pacientes, dar-lhes alguns conselhos, fazê-los sorrir e logo mandá-los embora, depois de 28 dias -rápido, na primeira melhora, ilusória ou não.

ccalligari@uol.com.br
@ccalligaris

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Artigo: Onde foram parar os neuróticos?


08/04/2012 - O Estado de S.Paulo
Autor: BENEDICT CAREY

Alguns arquétipos culturais saem do palco com um floreio, outros pisando firme. Os colonialistas de capacete, os poetas chapados por absinto e os gurus hippies fundadores de utopias nos anos 1970 fizeram algum barulho, nem sempre algum sentido, antes de serem engolidos pela história. Mas um tipo moderno está seguindo para o passado sem estardalhaço, sem até sua familiar lamúria - o neurótico.

Para uma geração de americanos do pós-guerra, ser neurótico significava mais que ser ansioso, e era diferente de exibir a histeria ou outros problemas de transtorno de humor para os quais Freud usou o termo. Significava ser interessante numa época em que a psicanálise reinava em meios intelectuais e Woody Allen reinava nos cinemas.

O fato de ele pouco significar hoje em dia é uma evidência da força com que a linguagem impulsiona a percepção da batalha mental, tanto suas fontes como suas curas. Nos últimos anos, os psiquiatras desenvolveram um vocabulário especializado para descrever a ansiedade, o componente central da neurose, e o público ganhou uma maior percepção de suas muitas dimensões.

No processo, contudo, perdeu-se o romantismo da neurose, além de sua concretização - a presença incessante, queixosa, carente que um dia funcionou na mente coletiva como uma voz interior que protegia contra o excesso de otimismo. Na era atual, o neurótico seria uma companhia nervosa para dias nervosos, pronto a oferecer doses de melancolia urbana hilariante.

"Eu ainda uso o termo de vez em quando, mas ele não diz muito", diz Barbara Milrod, professora de psiquiatria no Weill Cornell Medical College. "Temos maneiras mais específicas de descrever comportamento de inadaptação."

Algumas razões para "neurótico" ter caído em desuso na linguagem coloquial são óbvias. A análise freudiana perdeu seu domínio sobre o imaginário comum, assim como na psiquiatria, e parte da linguagem de Freud perdeu o poder.

Os cientistas que definem distúrbios mentais fatiaram a neurose em pedaços mais finos, como distúrbio do pânico, ansiedade social e transtorno obsessivo-compulsivo - todos termos que caíram no uso das pessoas comuns, para não mencionar os grupos de usuários online, letras de rock e programas de TV.

Em 1994, após um debate áspero com psicanalistas, os médicos que compilavam o Manual de Diagnóstico e Estatística, a enciclopédia da psiquiatria, tiraram a neurose do livro. "Com o que sabemos hoje o termo parece obsoleto", diz Michael First, pesquisador de Columbia e ex-editor do manual. "Com o declínio geral da importância de Freud em nossa sociedade, o termo foi ficando anacrônico."

Mesmo assim, o desejo de precisão e o declínio do pensamento freudiano não explicam por completo o desaparecimento do neurótico. Os psiquiatras não moldam a linguagem que usamos, afinal - nós todos o fazemos - e neurose tem ao menos tanta aceitação quanto outros termos freudianos duráveis, como ego e id.

A resposta pode residir em uma área na qual o espírito do neurótico continua vivo: a pesquisa psicológica. O "neuroticismo" é uma das "dimensões" do modelo de personalidade. Ele é medido com um questionário simples, no qual as pessoas reagem a declarações como "Eu me irrito facilmente" e "Eu me aborreço com coisas". Muitos desses questionários não mudaram em adultos desde os anos 1950. Mas estudos revelaram que, entre universitários, os níveis de neuroticismo aumentaram até 20%.

Internet. A mudança cultural pela qual passamos pode explicar os números. Hoje, jovens são inundados por confissões pessoais e pela disponibilidade cada vez mais pública de quase todo pensamento - via Facebook, Twitter e outras mídias sociais. Se a postagem crônica em Facebook e Twitter não é um exercício de neurose, então não é nada.

Além disso, características atribuídas a neuróticos foram normalizadas, diz Peter N. Stearns, historiador da Universidade George Mason em Virginia. "Nos tornamos tão acostumados a pessoas com preocupações constantes que isso ficou obsoleto."

O neurótico clássico continua entre nós, claro - mas com mais companhia. Mais razão, segundo Stearns, para preservar essa palavra que amplia a definição de normal no melhor da tradição americana - preserva a privacidade, num momento em que pode ser muito importante fazê-lo.

O historiador Edward Shorter argumenta que em alguns casos, como desconectar distúrbios de ansiedade da depressão, a precisão falha. Tristeza e preocupação são parceiras íntimas para muitas pessoas que visitam psiquiatras, e os medicamentos conhecidos como antidepressivos são amplamente receitados para ansiedade também.

O termo neurose abarca a ambos e precede Freud em um século. Ele se referia originalmente a um problema dos nervos, não da mente, em contraste direto com "psicose", que implica uma ruptura do pensamento lógico característico da esquizofrenia. "Perdemos essa visão de doença nervosa como uma doença do corpo inteiro, e agora a chamamos de transtorno do humor", disse Shorter. "Dizer às pessoas que elas têm um transtorno do humor as faz pensar que está tudo na cabeça, quando, na verdade, o sentem em seu corpo."

Honestamente, quem não se atiraria na chance de ter perspectivas menos danosas? Isso significa mais um voto para neurose como um estado mental ao qual podemos confiavelmente retornar em tempos estranhos - se não no tratamento psiquiátrico, ao menos entre amigos e colegas. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

link do texto original no site do New York Times

Artigo e entrevista do Psicoterapeuta Jonathan Alpert

 
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Em terapia pra sempre? Basta!


Texto original de Jonathan Alpert. Jonathan é terapeuta e autor do livro “Seja destemido: Mude sua vida em 28 dias”. Acesse o texto original neste link.

“Meu terapeuta me chamou pelo nome errado.”
“Eu chorei pelo coração; meu doutor olhou para seu relógio.”
“Meu psiquiatra me disse que eu deveria continuar com ele ou eu estaria perdido.”

Novos pacientes me dizem este tipo de coisa a todo tempo. E me dizem como terapeutas anteriores se sentavam, ouviam, acenavam e ofereciam pouco ou nenhum conselho, por semanas, meses, algumas vezes anualmente. Um paciente recentemente me disse que, após ver sua terapeuta depois de muitos anos perguntou se ela teria algum conselho para ela. A terapeuta disse, “Te vejo semana que vem”.

Quando eu comecei a trabalhar como terapeuta, há quinze anos, eu pensei que reclamações como estas fossem raras. Mas eu cheguei a uma conclusão decepcionante ao longo dos anos: terapia ineficaz é perturbadoramente comum.


Se você conversar com amigos, ouvir a conversas em um café, ou ler discussões online sobre o tempo de duração de terapia, eu aposto com você que você irá ver gente que continua em terapia por muito mais tempo do que o tempo que achou que teria de ficar para resolver seus problemas. De acordo com um estudo realizado em 2010 no American Journal of Psychiatry, 42% das pessoas em psicoterapia vão de 3 a 10 visitas para tratamento, enquanto 1 em 9 vão a mais de 20 sessões.

Para estes 11%, terapia pode tornar-se um beco sem saída. Pesquisas mostram que, em muitos casos, quanto mais à terapia dura, menos provável é sua eficácia. Ainda assim, terapeutas frequentemente hesitam em admitir a derrota.

Um estudo de 2001 publicou no Journal of Counseling Psychology que clientes melhoram dramaticamente entre a sétima e a décima sessão. Outro estudo, publicado em 2006 no Journal of Consulting and Clinical Psychology verificou quase 2 mil pessoas que foram submetidas a aconselhamento entre 1 a 12 sessões e, descobriram que enquanto 88% das pessoas melhoraram depois de apenas uma sessão, a taxa caiu para 62% após 12 sessões. Ainda de acordo com a conduta da pesquisa na Universidade da Pensilvânia, terapeutas que praticam um tipo mais tradicional de terapia, tratam clientes por pelo menos 22 sessões até concluíram que não está tendo nenhum progresso. Apenas 12% destes terapeutas admitem que não estão avançando e referenciam estes clientes para outro terapeuta. A conclusão é: Mesmo que terapia de longa duração não seja sempre benéfica, muitos terapeutas persistem em seguirem com seus clientes a uma terapia aberta e potencialmente interminável.

Defensores da Terapia de longa duração argumentam que existem diversas desordens psicológicas que requerem esta quantidade de tempo para serem tratadas. Isto pode ser verdade, mas é também verdade que muitos clientes de terapia não sofrem destas desordens. Ansiedade e depressão estão no topo dos motivos para os quais clientes são indicados para tratamento; esquizofrênicos estão no fim desta lista.

Na minha experiência, a maioria das pessoas buscam terapia por causa de problemas simples e facilmente tratados: eles estão em trabalhos ou relacionamentos insatisfatórios, não conseguem atingir seus objetivos, têm medo de mudanças e ficam depressivos com os resultados. Não se leva anos de terapia para chegar ao fundo deste tipo de problema. Para alguns dos meus clientes, não chega a levar nem uma sessão inteira.

Terapia pode – e deveria – focar em objetivos e resultados, e as pessoas deveriam ser aptas a sair dela. No meu consultório, as pessoas que gastam anos em terapia antes de vir até mim foram capazes de enfrentar seus medos, diminuir suas ansiedades e alcançar seus objetivos rapidamente – frequentemente em semanas.

Por quê? Eu acredito que é uma questão de abordagem. Muitos clientes precisam de um terapeuta agressivo que estimule o que eles acham que é desconfortável: mudança. Eles precisam da opinião de um terapeuta, conselho e planos estruturados. Eles não precisam falar interminavelmente sobre como eles se sentem e suas lembranças da infância. Um estudo (inglês) recentemente feito pelo National Institute for Health and Welfare na Finlândia descobriu que “terapeutas ativos, cativantes e extrovertidos” ajudaram seus clientes mais rapidamente que os “terapeutas cautelosos e não intrusivos”.

Este tipo de abordagem talvez não seja a certa para vários tipos de clientes, mas o resultado descrito por este estudo Finlandês vai de encontro com a minha experiência.

Se um cliente me diz que está infeliz em seu relacionamento com seu namorado no último ano, eu não pergunto, assim como alguns fazem, “como você se sente sobre isto?”, eu já sei como ela se sente. Ela acabou de me dizer. Ela está infeliz. Quando ela me pergunta o que ela deve fazer, eu não respondo com um interrogatório, “O que você acha que você deveria fazer?”, se ela soubesse, ela não iria perguntar pelo o que eu acho.

No lugar, eu pergunto o que será que está faltando no seu relacionamento e esboço possíveis formas de preencher essas lacunas ou, talvez, a terminar o relacionamento de uma forma saudável. Melhor que ficar brigando com as histórias da sua infância, eu encorajo meus clientes e encontrarem a coragem de confrontar o adversário, assumir riscos e abraçar modificações. Eu busco passar as habilidades para confrontar seus medos de mudar, no lugar de acenar minha cabeça e perguntar como eles se sentem.

Na graduação, meus colegas e eu fomos ensinados a servirmos como guias, aqueles que ajudam os clientes a chegarem a suas próprias conclusões. Isto pode funcionar, mas pode levar muito tempo. Eu não conheço clientes que querem ficar anos para se sentirem melhor. Eles querem se sentir melhor em semanas ou meses.
Alguns equívocos populares reforçam a crença de que terapia é deitar em um sofá e falar sobre seus próprios problemas. Então é isto que clientes comumente fazem. E é isto que leva a codependência. O terapeuta, claro, depende do cliente por causa do dinheiro, e o cliente depende do terapeuta para apoio emocional. E, para muitos clientes de terapia, é satisfatório ter alguém para ouvir sobre seus problemas, então eles saem da sessão se sentindo melhor.

Mas existe uma diferença entre se sentir melhor e mudar a sua vida. Sentir-se aceito e validado pelo seu terapeuta não te tira dos seus problemas e não te aproxima das suas metas. Ao contrário, isto talvez o encoraje a ficar atolado neste problema. Sessões de terapia podem funcionar como um SPA: eles podem ser relaxantes, mas não resolvem seus problemas. Mais que um oásis de doçura e aconchego de validação e aceitação, a maioria dos clientes querem estratégias inteligentes para conseguir chegar a seus objetivos de vida.

Eu não sou contra a terapia. Afinal, eu a pratico. Mas pergunte a si: se o seu cabeleireiro continuar fazendo péssimos cortes em você, você continuaria indo? Se um restaurante te servir uma comida horrível, você voltará nele? Não, tenho certeza que você não voltaria, da mesma forma, você não deveria manter-se em uma terapia que não está lhe auxiliando.


Comentários de Mario Sergio Cortella na Rádio CBN

Esta é uma grande oportunidade de acesso às ideias deste grande filósofo e educador. Sugiro a audição de todos os comentários, afinal possuem pouco mais de um minuto...

Homem dos Ratos





domingo, 12 de fevereiro de 2012

Plano de Ensino - Técnicas de Observação


Plano de Ensino - Sistema Nervoso: Patologias e Farmacoterapias


Plano de Ensino - Psicologia Social I


Plano de Ensino - Psicologia Psicodinâmica: Personalidade


Plano de Ensino - Psicologia Existencial Fenomenológica: Personalidade


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